quinta-feira, 29 de julho de 2010

Maria, maria

Maria é uma menina com uma bela história de vida.
Depois de nascer jamais encontrou e conquistou nada fácil. Aliás, vida fácil era uma coisa que ela jamais veio a ter.
Ao invés de fraldas, leite, conforto, escola, cultura, celular, internet, paqueras, faculdade, shows, academia e viagens, Maria foi empurrada pra vida, como boa parte de seres que parecem brotar como grama e são lançados à própria sorte, sem nenhum instrumento e desejos que funcionam como ópio trazido por uma modernidade cruel.
Quando ouvi a sua história, lembrei de um poema da Adélia Prado, onde ela disse assim:
"(...) tudo que nasce deve mesmo nascer sem empecilho, mesmo que os nascituros formem hordas e hordas de miseráveis e os governos não saibam mais o que fazer com os sem-teto, os sem-terra, os sem-dentes e as igrejas todas reunidas em concílio esgotem suas teologias sobre caridade discernida e não tenhamos mais tempo de atender à porta a multidão de pedintes. Ainda assim, a vida é maior, o direito de nascer e morar num caixote à beira da estrada é muito maior. Porque um dia, e pode ser um único dia em sua vida, um deserdado daqueles sai de seu buraco à noite e se maravilha. Chama seu compadre de infortúnio: vem cá, homem, repara se já viu o céu mais estrelado e mais bonito que este! Para isto vale nascer."

E a vida, como essa série de coisas que não sei explicar bem, segue com tantas marias
, com dores de menina calada, deixando a vida nascer e morrer, com uma série de coisas que nem todos conseguem ver nesse intervalo. Talvez por isso exista tanta infelicidade espalhada por aí.

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