terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Um caminho de herança

2012 é daqueles anos que poderia não ter fim. Motivos me sobram pra querer eterniza-lo, e são os mesmos que aumentam a responsabilidade de 2013. Há tanta coisa boa pra celebrar!

Passei no Mestrado da UFPE (academia cuja linha no currículo eu sempre quis ter!). Foram muitos shows e, o que é melhor, muitos bons shows. Multipliquei meus amigos, conheci tanta gente especial, do bem! Atuei em alguns Júris e confirmei ser aquela uma das minhas maiores paixões. Revi lugares importantes pra mim, visitei pessoas importantes pra mim. Procurei ser mais importante para os outros, tentei ser o melhor que eu podia ser para os outros. Comemorei muitas aprovações e nomeações dos alunos em concursos, eu sei que essa é uma luta que se vence por pontos, raramente por nocaute, e isso me fez mais forte. Tomei decisões importantes, algumas definitivas. Sorri um sorriso de esperança ao ver a corrupção receber uma inédita resposta. Vi amigos partirem, mas também vi a vida começar. Que coisa é a vida! Senti que estava vivo a cada momento que chorei ou sorri olhando as coisas lá de fora, daqui de dentro. É bom ter o Senhor do tempo à frente, acalma demais, é a paz que não está à venda, como quase tudo hoje em dia.

Acho que houve mais acerto do que erro. Acho que tô melhor, maior. Mais atento, crescido. Tô meio pronto e meio em preparação. Quero que "a minha esperança seja sempre um caminho que se deixa de herança", como já disse Ivan Lins. 2013 será de um novo tempo.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sem graça

Futebol tá sem graça. Explico: mesmo com a última e decisiva rodada do Brasileiro pegando fogo por aqui, o futebol tem andado sem graça. O mercantilismo inflacionou salários desde o Palmeiras da Parmalat, tomou conta de cotas de televisão desiguais, desvirtua a paixão honesta e tirou um pouco (um pouco) da magia do esporte bretão.

Entendam.
O Sport, se for rebaixado, não foi pelo último jogo, mas pelas 16 derrotas e 55 gols sofridos desde maio. Isso sem falar nos 3 treinadores, no saldo negativo de -16 gols e nas 33 contratações (dentre elas Lenon, Magno Alves e Silézio. Isso mesmo, Silézio).
O Náutico, se for à Sulamericana, não foi pelo último jogo, mas pelas 13 vitórias e 43 gols feitos em 37 jogos. Registre-se também o aproveitamento de 72,2% dos pontos como mandante e o bom critério nas contratações de jogadores como Martinez, Rhayner e Alemão, por exemplo.

Mas eu tava falando da graça, ou da sem graça. Sinto falta da boa polêmica, saudável, divertida. Antigamente se sabia perder. E perdia-se com classe, indo ao churrasco na casa do adversário da noite anterior, sorrindo, como devia ser. Dá saudade das frases de Dadá Maravilha, das fantasias do Renato Gaúcho, das máscaras do Paulo Nunes, das declarações do Romário, dos dribles e dancinhas do Edmundo, dos gols fantasmas do Túlio. Guardadas as proporções, até das profecias do Carlinhos Bala eu sinto falta. Sou de um tempo em que futebol era arte, e arte em todos os sentidos. Da plasticidade do drible às apostas que se convertiam em cestas básicas.

Hoje o que se vê é tudo, menos arte. Uma declaração feita através de uma rede social se torna uma coisa enorme, maior que uma convocação pra Seleção Brasileira! Vejam, Douglas Santos foi convocado (pela 3ª vez!) e isso fica diminuto nos meios de comunicação diante de 140 caracteres ingênuos. Sim, ingênuos. Não há menosprezo em ser chamado de 'coisa', ou de 'barbie', ou do que quer que seja. No Brasil, é mais grave ser chamado dessas coisas do que de corrupto. Será que é mais interessante polemizar sobre isso ou apontar os (i)responsáveis por essa campanha? Repito, se o Sport cair, a culpa não será do Náutico (não obstante jogar a última pá de terra).

Sou sócio, vou a campo, compro camisa, viajo pra ver o meu time, sou um apaixonado meio bobo. Mas que aos poucos o futebol vai perdendo a (pouca) graça que ainda tem, isso vai.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Vitória do caráter

Eu sei que você já leu algumas histórias surpreendentes ao longo da sua vida, independente de quantos anos ela tenha. Sei também que, para cada referencial, existem importâncias diferentes. Um testemunho que pode parecer comum para mim, soa surreal pra você, ou vice-versa. A verdade é que "perder o idealismo com a idade é falta de caráter"*. E ser um idealista tem um preço que, no meu caso, muitas vezes acaba sendo muito alto.

Digo isso porque o Direito Criminal começou a gostar de mim e, apenas um tempo depois, passou a ser correspondido. Na verdade, comecei a perceber que isso faria (e espero que faça) parte da minha vida pelo tempo que ela perdurar, quando me vi diante de uma realidade latente, como uma panela que ferve a 150°C e é tocada sem a expectativa que pode queimar. Ser defensor público me deu indignação suficiente para saber que sensibilidade e razão devem sempre caminhar como par perfeito. Eu sei o que acontece nos calabouços dos distritos policiais pelo Brasil afora. É um ledo engano achar que 1º de abril de 1964 é uma data há 48 anos atrás. Os Atos Institucionais que a ditadura pôs em prática, suprimindo as liberdades individuais e criando um código de processo militar que prendia e encarcerava (quando não fazia desaparecer) pessoas suspeitas é reproduzido de maneira cruel nos nossos dias e, pior, de maneira atroz, bárbara, maligna e perversa. A covardia de policiais e agentes é inversamente prorcional ao meu receio de escrever palavras como essas, e diretamente proporcional ao medo que eles tem de me enfrentar em um tribunal. De igual pra igual esses covardes não tem coragem de olhar no meu olho, como dizem ter quando levam inocentes às salas de investigação ou de reconhecimento e deles arrancam confissões ao preço de não deixarem impunes infrações que não tiveram a capacidade de previnir ou resolver.

Ao enxergar realidades como essa, não se pode subsistir a pudícia. Falo essas coisas sem medo de deixar de ser leve. Não tenho medo. Disse e repito a quem tiver ouvidos para ouvir e olhos para ler, que meu receio em enfrentar esse sistema corrupto e sanguinolento é diretamente proporcional à covardia dele. E melhor: não estou sozinho.

Acabo de ler uma história surpreendente. Aliás, algumas histórias, no plural, todas surpreendentes. Chegou até a minha pessoa, como um sopro qual um canto de um pássaro solto e livre, esse livro que me fez escrever esse post. "desCasos - uma advogada às voltas com o direito dos excluídos"** é um daqueles livros que devem ser lidos agora, sem deixar pra amanhã. Devorei-o em exatos 32 minutos, não por ser pequeno (o que de fato é, poderia e deveria ser maior!), mas por ser delicioso. A sua escritora, a Alexandra Lebelson Szafir, é defensora pública e igualmente irriquieta com as incoerências do sistema brasileiro. O que a torna ainda mais precisa (em ambos os sentidos que precisa possa receber) é que por motivos de uma ELA (esclerose lateral amiotrófica) ela teve afetados os movimentos das pernas, depois das mãos, braços, costas e, finalmente, deglutição e fala - o que a impossibilitou de escrever e até ditar para que alguém o fizesse. Suas ideias e pensamentos brilhantes presos à sua mente puderam ser lidos por mim (e espero, do fundo da minha alma, que por você também) por um programa de computador criado por uma fonoaudióloga que funciona como uma webcam que focaliza o seu rosto e se fixa no ponto central dele, que passa a comandar o mouse, movendo-se na tela de acordo com os movimentos do nariz - o que a levou a dizer que "começou a meter o nariz onde não foi chamada", em tom leve e brilhante. Fantástico né?! Perfeita.

Que bom que existem pessoas como Alexandra no mundo. Citando Edmund Burke - o que ela também faz - "ninguém comete erro maior do que não fazer nada porque só pode fazer um pouco". Muito ou pouco espero jamais deixar de fazer a minha parte. Idealizo coisas grandiosas. No amor, na profissão, na vida. E perder esse idealismo me faria um derrotado de alma. Um perdedor de caráter.

____________
*Frase do Dr. Ranulfo de Melo Freire, citada no livro "desCasos - uma advogada às voltas com o direito do excluídos", livro esse de leitura OBRIGATÓRIA para qualquer ser humano - seja indiferente ou preocupado com a humanidade, presente e futura.

** SZAFIR, Alexandra Lebelson. Descasos: uma advogada às voltas com o direito dos excluídos. São Paulo: Saraiva, 2010.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Quando não houve bucha de canhão

Hoje me peguei completando um desses cadastros que estamos a preencher em cada lugar ou site por onde passamos. Na profissão fiquei em dúvida. Melhor, tive duas certezas - o que também não deixa de ser uma dúvida. Lembrei-me na hora de um amigo que me achava um professor que advogava, e não um advogado que ensinava. Concordei. Gostamos de ser chamado por aquilo que mais gostamos de fazer. Damas que passam uma, duas ou às vezes até mais horas a se arrumar merecem ser elogiadas. Um jardineiro que dedica dias da sua vida a um jardim merece ser elogiado e, nesse caso, em dobro. Pessoas que nos fazem bem pelo simples fato de ocuparem nosso pensamento merecem elogios.

Sim, mas o que gosto mesmo é de ensinar. Gosto de receber e-mails de alunos gratos por terem conseguido 'fechar' uma prova que passaram tempos a se preparar e que lograram êxito. Fico feliz da vida por ter-lhes entregue algumas horas e dias da minha companhia! Quando dividem isso comigo me sinto tão vitorioso quanto eles, acho que cumpri meu papel aqui na Terra. Me apetece ver alunos ocupando funções públicas e as fazendo dando o melhor de si, alimentando suas famílias, sustentando seus lares, educando seus filhos. É um trófeu que meu sorriso ergue, uma recompensa que não é pecuniária e nem tampouco faz cessar as minhas necessidades vitais que meu corpo fadado aos prazeres clama. Mas me faz feliz por completo! Você não imagina o carnaval que fica dentro de mim ao caminhar no Fórum, ou dirigir meu carro no trânsito, ou ir às repartições e ouvir um "Professor, tudo bom?! Olha, nunca me esquecerei daquelas aulas de direito penal! Legítima defesa, homicídio, lesões corporais, pena privativa de liberdade, progressão de regime! Dos seus exemplos, suas histórias... me ajudaram demais, foi útil à minha realização, minha aprovação no concurso!". Me sinto um pai após um dia de trabalho a ninar seu filho que foi à escola e dorme se preparando para um outro dia. Isso me instiga, tira meu ar, faz meu pulso bater. Acredito mesmo que nasci pra isso.

Já advogar me faz bem na alma. Mexe com muita coisa que eu tenho contido. Aliás, não só eu mas todos que se indignam diante de uma injustiça. Quer maior sacanagem do que aquela que a China fez com o Tibet?! Quer maior injustiça do que a que fazem com os brasileiros que se levantam diuturnamente em relação ao peso tributário que são obrigados a suportar, quando na verdade poderiam usar esse dinheiro para o seu prazer?! Não falo nem da corrupção de parlamentares, de desvios de verbas públicas, de políticos que se apropriam de dinheiro que não lhes pertencem. O Brasil tem mudado e creio que bons ventos hão de soprar por aqui. Mas já perdi o sono por não suportar injustiças. Já passei noites em claro por ter de encontrar razoabilidade em defesas de acusados confessos. Sei o que se passa, ainda hoje, nos calabouços das delegacias de polícia. Já precisei resolver em um dia de plenário no Tribunal do Júri uma injustiça que se arrastou por mais de quatro anos entre oitivas e audiências onde não se achava o acusado mas que, pela necessidade de dar uma resposta tão irresponsável quanto inconsequente, o crime precisava de um culpado. A expressão "bucha de canhão" tem origem na humilhante identificação para aqueles que, defendendo a pátria (que os oprimia!), morriam aos milhares no campo de batalha. Aquele processo precisava de uma bucha de canhão, mas não teve. E nem terá, pelo menos enquanto eu puder com as minhas tão frágeis forças equilibrar essa balança, e tiver vez e voz. Só de escrever isso já começo a sentir o sangue ferver. Isso muitos dias foi e ainda há de ser meu alimento. Chego a perder o apetite, mas ganho em sonhos. E, melhor, em sonhos realizados.

Ou seja, escrevo por prazer de escrever e me derramar nesse espaço. Como falei no início, todos que dedicam parte do seu tempo a algum fim, se há nobreza nele, merecem os aplausos. A moça que se embeleza, o jardineiro, gente empenhada em fazer o bem. Fico feliz porque existem pessoas que me provocam a escrever e elas são tão importantes! Tão importantes que merecem ser lembradas. Obrigado por cobrarem, quase que em tom de exigência. Somos bons quando somos provocados. E melhores ainda quando deixamos uma parte de nós por onde andamos, e do meu corpo já tem boa parte por aqui.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Uma garrafa jogada ao mar

Tenho experimentado coisas impressionantes na vida e da vida. Nessas quase três décadas provei do mel e do fel daqui. Hoje, mais do que nunca, sei que a direção é mais importante que a velocidade. Essa é minha religião, sou adepto de tudo que me provoca questionamentos, aprendo mais com as perguntas do que propriamente com as respostas que me dão e - principalmente - que me dou.

Conheci alguém especial, capaz de aumentar o meu fôlego (e tira-lo também!), de me fazer bobo no melhor sentido que ser bobo pode assumir. Queria diante disso desacelerar a vida, diminuir a velocidade para aumentar a intensidade, para assim degustar disso em boas e pequenas doses homeopáticas. Eternizei em uma semana aquilo que eu quero que seja alimento por muito tempo e espero lembrar de coisas que me tragam esperança. Bacana isso não?! Veja que não há pecado em querer eternizar essas coisas! Se, por si só, elas forem para sempre, é como ter lembranças do que se vive a todo instante. Que briga boa contra o tempo! O que é a esperança, senão aquela lembrança de que tudo dará certo?

Já ouvi pessoas mais velhas dizerem que antigamente se vivia mais intensamente, justamente porque se vivia um dia de cada vez, uma coisa de cada vez. Acho que esse é o mal que fazemos a nós mesmos: querer viver tudo de uma só vez, como a sede que devora um copo cheio d'água em um gole só. Perde-se o vagar descompassado, o olhar profundo e hermético, perde-se o afeto, o carinho, a família, a benção, painho, a benção, mainha. Perde-se o respeito aos mais velhos, perde-se oração, novos inícios, novas e boas experiências. Como tão boas experiências desperdiçamos! Quantos amigos deixamos de fazer por falta de gentileza, e quanto bem deixamos de fazer a nós mesmos quando estamos constantemente insaciáveis. Outro dia deixei uma pessoa passar à frente numa fila e ganhei um sorriso. Quer recompensa melhor?! Dei uma coisa tão irrisória e recebi em troca umas das melhores coisas que alguém pode dar a outra pessoa!

Sei que despedidas não combinam com a esperança e a certeza que se inicia. É como dar adeus ao sol da primeira alvorada, isso não irá conter a sua fúria de nascer, ele vem e cresce e ganha força, tão quanto natural é o amor. E se o amor não estiver na pureza e na grandeza das coisas simples, não estará em lugar mais algum. Ele vem quando menos se espera e pega você desprevinido. Vem pelos cantos, sem carro do ano, sem anel dourado, cheio de mistérios. Com uma rosa na mão, a crescer o quanto tiver! Vai, voa porque tem que voar, tomar os ares! Deixa um gosto doce, recordações amáveis, surpresas no caminho.

E, se perguntam pelo futuro, respondo da mesma forma. O amor é um gigante adormecido, que só é acordado aos poucos, lentamente e se ergue calma e serenamente. Não queira gritar para acorda-lo, não adianta. Dê mais de si e requeira menos dos outros e, quando menos se espera, o gigante está de pé, firme, forte, grande, imponente. Atravessa o Atlântico e de lá acena. Ele vai, e essa história desafia qualquer lógica. E a distância desafia o amor, e eu desafio a distância. Não conheço nada capaz de deter a força desse gigante.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Como se escreve saudade no aumentativo?

E, se em uma noite que parecia ser como outra, os astros se riem pra você e resolvem aprontar?! Daí você recebe uma mensagem subliminar como um sinal, se levanta da cama, põe não só uma roupa, mas a melhor roupa e se olha no espelho. Se perfuma, amarra os cadarços e novamente se olha no espelho. É, tá bom. Despretensiosamente sai e, sem sequer saber que tudo já estava escrito, você sente como se realmente aquilo fosse um dia acontecer, daquela forma, e começa tudo.

Ela saía de casa e também não sabia de nada disso. Aliás, saía de tão longe que, digamos, seria até mais improvável que a essa distância ele pudesse estar sabendo de alguma coisa. Por que será que não entendem que as milhas nada significam quando algo está escrito?! Mas ninguém também sabia. Em tom bem brasileiro, aquela noite nascia urgentemente delicada. Tivesse uma trilha seria uma valsa vienense, ou uma bossa de Vinícius, em pouco volume e muita beleza. Também se arrumou, se olhou. Perfumou-se e tornou a se olhar. Estava pronta.

Quis soberanamente que eles se olhassem e se conhecessem. Ele olhou pra ela e, em algum lugar onde tudo estava sendo visto, o estrondo foi grande. Ela sorriu. Ou o inverso. Sim, aquele sorriso, por si só, era capaz disso. Como se ali todas as estrelas sorrissem satisfeitas do dever cumprido, testemunhavam com o privilégio de não serem notadas, mas como se sorrissem aquele sorriso fechado para um só lado da boca. Ah, ela não saberia quantas noites esperavam por aquela. Ninguém sabia. Como também não dava pra saber que a mesma despretensão daquele momento, seria a mesma de uma semana depois, onde tudo convergiu e, novamente, houve festa em um lugar muito distante, acho que em outra galáxia. Dá pra acreditar em festa em outro lugar, quando acontece alguma coisa aqui?! Dá pra imaginar uma plateia para esse nosso teatro diário, nem sempre triste e nem sempre feliz?! Dá pra sonhar alguém sorrindo e mostrando a ele quase que com um holofote que ela estava bem ali, numa escada, de lado, parada?! Entre sem-graças, pessoas comuns?! Pois é. Naquela noite a festa foi maior. Acho que teve champanhe!

No outro dia ela o ganhou. E, sem saber, o ganhou por completo. Com a delicadeza de um ato que não se sabe a origem. Talvez a grandeza da delicadeza de Gandhi, talvez da pureza de São Francisco. Mas acho que diante daquela história que começava a se rabiscar, delicado era pensar como nos olhares do final de um filme, seja do que for. Pode um momento perdurar por todo o sempre?!

Ele sorriu. Andaram juntos, foram à França juntos (tão perto Monttpelier!), dançaram, cantaram, sentiram saudade. Viram um filme (sem até nem saber que já eram protagonistas de um tão bonito que estava a começar!). Naquele, como em um sonho, um lindo sonho tão bonito e tão infinito, deram-se as mãos.

Pra mim é tão real escrever isso, que chego a sentir novamente com a mesma intensidade daquele momento que foi vivido. Grande amores estão em nós e, de uma hora pra outra, ela estava ali. E podem morar a milhas de distância, ou até estar nesse momento a mais de 2.000 km esperando pra ler essas palavras. Mas o fato é que diante do que se sente e da intensidade do que se sente, a distância é tão pequena, as dúvidas de mudas até silenciam e os medos reconhecem a grandeza dessas coisas que ninguém imagina que pode acontecer depois de uma noite de quinta-feira. É quando ele olha o travesseiro e sabe que alguém também deita na mesma hora, tão longe dali. E rasga mais uma folha do calendário, e faz planos. E chora de saudade, mas sabe que as horas correm a seu favor para fazer aquele dia mais próximo. E volta a sonhar, volta a sonhar.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Repara se já viu poesia como esta?!

Hoje fui tomado por um saudosismo sem tamanho. Sempre pensei que a idade não fosse passar e que envelhecer era um evento mais psicológico do que físico. Não mudei de conceito, mas hoje percebo a saudade deitar no meu peito como se tivesse um sono pesado e interminável. Começo a vislumbrar os fatos passados com menor acuidade e alguns acontecimentos ficam como um alguém que acena do cais e eu vou partindo, em um navio que precisa atracar em outros portos.

Se fatiar a vida em pedaços pode ser bom, pra mim hoje foi melancólico, como o olhar fixo nas nuvens cinzentas de uma tarde chuvosa. Dos lugares por onde andei e de tudo que meu olhos puderam contemplar. Tem registros que foram feitos apenas pela mente, máquina digital e câmeras no celular são pontualmente tão recentes! Pessoas inteligentes me fazem falta. Receber ligações no meio da noite de quem menos se espera faz falta. Pegar uma muda de roupa e a escova de dente, entrar num ônibus e viajar pra encontrar alguém faz falta. Não sentir o peso de tanta responsabilidade que eu mesmo me acrescento todo dia faz uma falta danada. E era sobre isso que eu queria falar.

Certa vez conheci uma senhorinha que distribuía flores. Hoje vejo que este é um ofício que não é pra todos. Por mais que se esgotem campanhas de gentileza, que os poetas se esforcem pra disseminá-la e que todo dia fosse 31 de dezembro, não sei se alguém pode fazer melhor aquilo na terra do que aquela mulher. Aquela flor vinha acompanhada de candura, o jeito como ela pegava para entregar e a singeleza e simplicidade daquele ato tornava aquilo gigante, grande demais pra qualquer ser vivente!

Me senti saudoso hoje porque não é simples pensar que as próximas primaveras podem não ser tão boas quanto as últimas. E se forem?! E se não forem?! E se as pessoas que cruzarem meu caminho não forem tão interessantes quanto aquelas que ficaram nele? E se, se, se...

A Adélia Prado é fantástica. Ela fala e eu entendo, sempre. Queria poder dizer isso a ela algum dia. Mas queria dizer sutilmente, da mesma forma como ela fala e eu a entendo. É uma poesia com cheiro, com gosto, com tudo que eu tô sentindo agora. Tem um livro dela chamado "Filandras", que é assim. Tem um trecho que faço questão que você leia:

"(...) Contra céu azul e cheiro de mato verde Deus regia o planeta. Estava muito surpresa com a perfeita mecânica do mundo e muitíssimo agradecida por estar vivendo. Foi quando teve o pensamento de que tudo que nasce deve mesmo nascer sem empecilho, mesmo que os nascituros formem hordas e hordas de miseráveis e os governos não saibam mais o que fazer com os sem-teto, os sem-terra, os sem-dentes e as igrejas todas reunidas em concílio esgotem suas teologias sobre caridade discernida e não tenhamos mais tempo de atender à porta a multidão de pedintes. Ainda assim, a vida é maior, o direito de nascer e morar num caixote à beira da estrada. Porque um dia, e pode ser um único dia em sua vida, um deserdado daqueles sai de seu buraco à noite e se maravilha. Chama seu compadre de infortúnio: vem cá, homem, repara se já viu o céu mais estrelado e mais bonito que este! Para isto vale nascer." (Extraído do livro "Filandras", Editora Record - Rio de Janeiro, 2001, pág. 119.)

 Leio Adélia Prado e volto a sonhar. Venham cá! Reparem se já viu poesia como esta?!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O homem da terra e o coração do marinheiro

Tem coisas que eu falo e pouca gente entende. Eu acho isso bom. Acho bom que aquilo que eu fale não seja escutado por todos e aqui eu troco o entender pelo escutar, como uma forma de fazer você começar a ouvir o que eu escrevo, e não apenas ler. Isso é pensar poeticamente. A poesia tem música, por isso rimas soam como melodia. É mais ou menos assim: você lê (perdão, você ouve!), aquilo de alguma forma mexe com algo que você tem contido e pronto.

Relendo uns livros que ganhei de presente, me peguei encantado por Jorge Amado. Que baianinho danado! Muitos gostam de vê-lo na TV, nas minisséries televisivas, que tem lá os seus méritos. Eu prefiro degusta-lo lendo suas palavras, mexe mais com minha imaginação. Ele sabe como ninguém usar os recursos de repetir termos e frases no intuito de criar rápidos fluxos de consciência e, literalmente, conversar com o leitor sem se dirigir diretamente a ele. Essas repetições podem causar humor, mas na sua maioria reforçam o caráter trágico dos destinos navegantes, à mercê dos humores de Iemanjá, a mulher de cinco nomes, que pelo seu capricho pode leva-los ao fundo do mar. Acho difícil, por melhores que sejam os atores, haver melhor teatro que a nossa fértil imaginação. Sim, mas voltando à poesia. Tudo que era escrito por Jorge Amado e musicado por Dorival Caymmi ganhava ares de festa. E, por isso, só depois vim descobrir que "É doce morrer no mar" veio da história de Guma e sua amada Lívia contada com todos os reveses da vida praiana - onde o pescador começa a descobrir quando é a vez do mar. "Mar Morto" é encantador! Jorge Amado é encantador!

E foi lendo-o que me deparei com uma frase intrigante, no meio de um posfácio aparentemente ingênuo. "Vinde ouvir essas histórias e essas canções. Vinde ouvir a história de Guma e de Lívia que é a história da vida e do amor no mar. E se ela não vos parecer bela, a culpa não é dos homens rudes que a narram. É que a ouvistes da boca de um homem da terra, e, dificilmente, um homem da terra entende o coração dos marinheiros. Mesmo quando esse homem ama essas histórias e essas canções e vai às festas de dona Janaína, mesmo assim ele não conhece todos os segredos do mar. Pois o mar é mistério que nem os velhos marinheiros entendem."

Sempre me perguntam de onde vem isso que faz meu pulso disparar pela arte, pela música, e pelos segredos que dessas coisas decorrem. Eu juro que não sei explicar! E talvez nem você conseguisse também entender, como até já falei.

O certo é que a vida é assim. A vida tem segredos, como o mar tem os seus. E os mistérios que nem os velhos marinheiros entendem também são assim. Se a poesia imita a vida, Jorge Amado é o mais autêntico dos marinheiros, por isso navegar nesses mares é tão bom. Porque dificilmente um homem da terra entende o coração dos marinheiros.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Senhor deu, o Senhor tirou.

Era uma noite chuvosa e novembro tava perto de terminar. Eu só tinha 17 anos e estava, literalmente, às vésperas de prestar o meu primeiro vestibular pra Direito. Como a prova era num domingo e eu ainda não entendia muito a seriedade daquilo, minha mãe me disse pra dormir cedo e evitar qualquer atividade que me deixasse cansado, essas coisas de mãe. Fui deitar, sem dar muita bola pra proximidade do primeiro grande desafio que a vida me trazia. Meu telefone toca. "Alô, é Rafael? Rafael Fonseca?". "-É sim", respondi, meio acordado, e inteiro sem saber quem era. "-Quem é?". "Cara, não sei se você me conhece, mas quem me falou de você e me deu teu número foi Lula, baixista. Aqui quem fala é Pedro, Pedrinho." Aquela voz era inconfundível. Melhor, aquele jeito de falar era inconfundível. Às vezes meio gago, ou querendo atropelar as palavras pra dizer logo o que queria, ou às vezes repetindo a mesma coisa para em seguida ouvir o que queria. A verdade é que eu sabia quem era Pedrinho, mas até ali eu não sabia que ele sabia quem eu era. Isso porque eu já o tinha visto nos palcos do Recifeliz, nos trios elétricos da Marcha, e gostava demais do jeito que ele fazia aquilo. Era diferente, efusivo, instigante, inquieto, ele sempre foi diferente. Eu era um baterista que, apesar da pouca idade, tinha alguns anos de estudo, mas havia tocado com quase ninguém e o que o levou a fazer aquela ligação foram os nossos amigos músicos em comum. "-Fala, Pedrinho, tudo certo cara, sei quem você é. O que é que manda?!" Perguntei, sem ter a menor noção do motivo do contato - àquela hora, num sábado. Naquele instante esqueci do vestibular, da hora, do sono, da minha mãe e das suas recomendações - doido pra que fosse um convite pra tocar com ele. "Tô precisando de um baterista e me indicaram você, tá afim de tocar comigo hoje?! É mole. Será na Imbiribeira, coisa rápida, passo pra te pegar em 15 minutos". A essa altura eu já tava acordado, de pé, com uma porta do guarda-roupa aberta. "-Tocar contigo? Mas... como é, assim... sem ensaio?" "É. Me diz o nome da tua rua e o número do prédio, é perto da onde?". Isso era a cara dele. Não sabia onde eu estava e dizia que chegava em 15 min., ou ainda nem se importava com qualquer empecilho que atravessasse o que vinha naquela cabeça. O final dessa história - que na verdade era só o começo de tudo - foi que ele veio, falou com minha mãe que, mesmo reticente, liberou com a condição de voltar cedo por causa da prova (!) e viramos amigos. Isso mesmo, amigos.

Naquela época ele ainda era seminarista, mas a verdade é que sempre fomos tão amigos que sua autoridade sobre a minha vida decorria de admiração e carinho, e nunca de submissão, imposição ou medo. Certa vez fomos para Timbaúba, cidade a 100 km de Recife, tocar por lá. Junto conosco foi Bosco, então goleiro do Sport Recife, pra dar um testemunho para um público que esperava ansioso, ligando quase que de minuto em minuto querendo saber em que altura da estrada nós estávamos. Na ida o carro quebrou, na chegada quase não conseguimos passar entre o carro de som e a multidão e na volta foram só risos, alegria e certeza que lembraríamos daqueles momentos para sempre. Contando aqui, assim, parece que vivi tudo isso ontem, mesmo passados 12 anos.

Desde aquela ligação, mesmo com a pouca idade, algo me dizia que o sentimento que eu teria por aquele cara teria um gosto de eternidade. Eu provei daquilo naquela noite. Não sei, era uma simbiose que dispensava ensaios, acertos, previsões. Antes de ir morar no Sul, recebi a visita dele. Dos meus amigos, foi o último a se despedir de mim, antes que eu fosse morar em Curitiba. Que ironia, sem se despedir, foi o primeiro deles a ir embora, ficar ao lado do Pai. Nunca me esquecerei do que me disse naquela noite: "Vai lá, Noelzinho (como sempre carinhosamente me chamou). Vai viver, cara, vamos viver!".

Vamos sim, Pedrinho. E eu vou meu amigo, irmão, pastor, conselheiro, fiel escudeiro e confidente. Sempre tão firme, honesto consigo próprio, transparente, autêntico. Esse acidente pode ter sido forte pra lhe arrancar dessa vida, mas mais forte é o Pai, é Deus que a deu e a tirou. Eternamente, Bendito seja o nome do Senhor.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Da lama ao caos

Você, que mora em PE, lembra em quem votou para Senador em 2010?! Se lembra e um dos seus votos foi para Humberto Costa, com o lançamento da sua candidatura a Prefeito do Recife, sabe quem assumirá sua vaga no Senado?! Joaquim Francisco. Isso mesmo. "Joaquim Francisco, senador pelo PT (!)". Quem conhece sua história política, imaginaria uma manchete como essa?! A pior das corrupções é a traição aos princípios, e pior que o PT são os eleitores que sequer sabem quem são os suplentes quando votam em um Senador. Pra mim, isso foi a gota d'água. E já que, de gota em gota, a Cachoeira enche o lago, tome chuva, barreira caindo, trânsito caótico e aumento pros vereadores do Recife. Como dizia Chico Science, "(...) Ô Josué, eu nunca vi tamanha desgraça.
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça". E a cidade não para, a cidade só cresce! Viva o Rio Mar! Viva a Via Mangue! Mas calma... pior não são os eleitores de PE que votaram em Humberto Costa. Como deve se sentir quem votou em Demóstenes Torres em Goiás?!

Se Recife já trocou João por João, trocará Costa por Costa. É costas pro povo, de novo.

terça-feira, 6 de março de 2012

Pernambuco imoral, imoral

O Brasil é o país das prerrogativas e Pernambuco o estado dos desmandos. Aqui o cidadão que ameaça alguém portando arma de fogo, em alguns casos, chega a responder por tentativa de homicídio. Já fiz defesas às pencas nos Tribunais do Júri pelo Brasil afora, com acusados dessa natureza, e falo de cátedra. Se o mesmo cidadão constrange mulher à prática de qualquer ato libidinoso, em seguida é rejeitado e - por circunstâncias alheias à sua vontade - não consegue consumar o delito, lhe é imputada a conduta do estupro. Mas se ainda, por acaso, urinar na rua, aí só-Deus-sabe qual pena irá pegar pela prática do ato obsceno. Em suma, HOMICÍDIO (na forma tentada), ESTUPRO (na forma tentada) e ATO OBSCENO são crimes. Mas são crimes para populares, sem prerrogativa de foro. Ou até para juízes de outros estados que possuem um Tribunal de Justiça sério, coerente, imparcial e independente. Aqui em Pernambuco, não.

Que ironia. Um juiz de uma Vara Criminal da capital Recife, acostumado a censurar essas condutas e de sentenciar penas graves a quem transgride a legislação penal, pratica-as no Natal de 2010, em um bar em Casa Amarela (pasmem, disse ter se embriagado involuntariamente quando esses fatos aconteceram!) e sabe o que seu julgador disse?! Sabe qual decisão que o "Egrégio" Tribunal de Justiça de Pernambuco, através da sua Corte Especial tomou?! 9 (NOVE!), dos 12 desembargadores votaram pela "Censura". Isso mesmo, C-E-N-S-U-R-A. Trocando em miúdos, sabe o que significa?! Que o Excelentíssimo Senhor Doutor Magistrado trabalhará normalmente amanhã, na base do "cumpra-se o que eu decido, mas não pra mim quando o faço".

Pernambuco, meu estado, que pena! De tantas belezas, de um povo aguerrido, lutador, de tanta gente séria, mas infelizmente submissa a um Poder Judiciário tão corrupto, despreparado e desequilibrado.

Justiça aqui nesse estado só será feita no dia em que os criminosos julgarem os criminosos, como os juízes julgam seus pares. Assim, essa voz que vos fala se calará e ficará em paz, diante da ausência de interesses escusos e dessa nojenta demagogia que permeia esse poder que só merece o desvalor e o descrédito desse povo, coberto de glória.

Pernambuco, imoral, imoral.
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*Não deixe de ler:
http://www.juristas.com.br/informacao/noticias/juiz-que-ameacou-mulheres-em-casa-amarela-sofre-apenas-pena-de-censura/18490/

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cresça o quanto for!

Sou cético pra uma monte de coisas, mas no amor ainda acredito. E acredito nele na forma mais pura e mais bíblica que existe. Sei que ele é paciente, benigno. Que não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. E que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Acabo de ouvir "Alívio", uma música do Arthur Maia com Djavan. Adoro quando uma música me ouve, sempre que procuro alguma pra ouvir.

"(...) seja lindo, amor, bem vindo... e cresça o quanto for!"

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O porquinho

Acho que esse foi o maior tempo que passei sem escrever aqui, coisa que gosto tanto de fazer. Acho não, foi sim. Foi o tempo que mais demorou para que eu juntasse, como sempre falo, tudo o que vejo nas ruas, espalhado, e fizesse disso palavras. Não é tarefa das mais fáceis, no entanto, no erro de ser irreal eu não incorro.
Mas enfim, eis aqui de novo um expectador atento ao que se passa em derredor. Venho, depois de receber estímulos de tanta gente que se identifica com esse espaço que, se servir para uma única pessoa, já me faz feliz por inteiro, me derramar. Andei por lugares novos, e também pelos mesmo lugares de sempre. Fui em frente, voltei atrás, sorri muito e, desde a última vez que meus pés pisaram o 'rafadesapatonovo', chorei apenas um dia - e isso não é um bom sinal. Minhas lágrimas costumam ser mais honestas comigo mesmo que meus sorrisos.

Venho falar de um porquinho que quebrei outro dia, há muito pouco tempo atrás. Quebrei porque de tão pesado já não tinha espaço pra mais nada. Só aguçava mais a minha curiosidade em realizar os planos do que iria comprar, ou o que iria fazer da minha vida. Andei ocupando-o de moedas de pouco valor e que pesavam o mesmo daquelas de maior valor. Quanto tempo levei pra entender que não adianta juntar coisas que, de tão pouco, acabam por valer nada! Só percebi que tinha cometido esse equívoco quando abri e vi muitas moedas que sequer mereciam ter sido guardadas. Na verdade, lembro de poucas vezes que as guardei, mesmo sabendo que eram irrisórias. Poucas vezes isso foi pensado ou, sei lá, espontâneo. E aquele porquinho não tinha como ser refeito, o jeito era conseguir outro porta-níquel e passar a me enganar menos. Ou melhor, não me enganar mais.
Aprendi (tô sempre aprendendo!) a esperar para guardar um moeda de um real, em lugar de cem de um centavo. E não é simples matemática, nem economia ou obviedade financeira apenas. Pesa menos, dói menos e passa mais tempo para precisar quebrar o porquinho. E quebrar porquinho dói, dói demais. Decidi quebrar menos porquinhos daqui pra frente e amanhã começo com outro (tô sempre começando de novo...). Prometo voltar a falar dele, mas não me pergunte quando. Só o tempo irá dizer isso. E os trocos que recebo pela vida afora.