segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Frio e calor

Esse é o primeiro post do ano e, como não poderia ser diferente, venho escrever sobre o que vejo nas ruas, às vezes jogado pelas calçadas, às vezes no pensar vago e descompassado do dia a dia. Ter várias facetas e contato com muitas pessoas é bom, porque me faz ver o ser humano sob vários prismas e em vários momentos - coisa que me incita a pensar se fosse eu e me desafia a provocá-lo, como se fosse você.

Ouço as respostas efêmeras às coisas do mundo e me surpreendo em vários sentidos, como já falei. Com os clientes criminosos, algumas vezes tão quanto vítimas de tantas coisas e com o sistema impregnado de corrupção. Me estarreço com a futilidade da noite, sempre que vou tocar em casas noturnas com a entrada disputada centímetro a centímetro nas filas, numa entrega desmedida a não-sei-o-quê. E com o vazio que vejo em cada rosto que se entrega a uma pessoa diferente a cada cantar do galo, intuitivamente querendo mostrar aos que nada são, o que também não se é.

E como, sabiamente, diz a Bíblia em Mateus 24:12, "(...)  por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará". E esfria mesmo. Murcha, seca. Como a volatilidade de um encanto fugaz, quando se viu... puf! Acabou. Não se tira de um poço mais água do que ele tem e depois nem adianta dizer que não sabia.
É que esse amor que se esfria acaba sofrendo com o gelo da iniquidade, multiplicada pelas mentiras.

E há tantas coisas pra se esquentar o amor! Tem um bom cobertor que é a cumplicidade. Não se iluda, tudo o que não é dito pode ser imaginado, e imaginar é um direito também! E pode dar frio, aliás quase sempre dá. Dá medo, que acaba sendo uma hipotermia danada.
Há um agasalho também que é a verdade. Como esquenta ouvir o que é verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama, né?! Bom pensar nisso, pois nisso há virtude e louvor.
Posso até falar de outras mantas e edredons, como a confiança, compreensão, dedicação, entrega. Mas uso esse espaço - eu sempre repito isso - como a janela lateral do meu quarto de dormir, onde vejo as coisas que lá foram passam e que refletem aqui dentro. E, sinceramente, não dá pra ver tanta coisa de uma só vez, pelo menos por ela.

E então, quando porém vier o que é perfeito, o que é em parte será aniquilado. E congela pra nunca mais derreter, como grandes geleiras cansadas de esperar pelo sol, que nunca veio. E nem nunca virá.