quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um poeta e o mar de livros

“Carobene tinha razão: ali, de fato, era outra coisa. O calor estava violento também em Augusta mas, sem a reverberação dos muros, provocava não mais uma prostração bestial, mas uma espécie de leve euforia. O sol, perdida sua garra de algoz, limitava-se a ser um risonho doador de energia, apesar de violento. E também um feiticeiro que emoldurava diamantes instáveis em cada uma das leves ondas do mar. O estudo não era mais fadiga. Ao embalo ligeiro do barco onde permanecia longas horas, cada livro não me parecia mais um obstáculo a superar, mas a chave que abriria a passagem para um mundo cujos aspectos mais fascinantes estavam diante dos meus olhos. Frequentemente ocorria-me recitar em voz alta versos de poetas e os nomes dos deuses esquecidos, que quase ninguém conhecia, e que roçavam outra vez a superfície daquele mar que, antigamente, ao ouvi-los, levantava-se em tumulto ou aplacava-se em bonança.”

(Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, em "A Sereia".)

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