Na exceção está a graça da vida. Escrevo
pra todos e quero ser lido por muita gente, mesmo não sendo essa a minha maior intenção
quando me ponho a discorrer sobre a vida. Confesso que alguns me leem como as multidões
leem as estrelas, de modo astrológico, e não como alguns letrados que a veem de
um modo astronômico.
Para não repetir os monossílabos
de tantos livros expostos por aí – acho que por ter sido alfabetizado de
maneira popular e muito pouco erudita – prefiro as exceções. Explico: acho que
alunos que sentaram nas primeiras filas da sala de aula gostam menos de mim do
que aqueles do fundo. Ali é que se vivia intensamente o dia a dia escolar, a
malícia do mundo, a verdade das coisas. Líamos (e aqui me coloco entre eles) o bê-á-bá
mais leve, éramos sempre mais sutis nas perguntas, íamos além do que se queria
indagar. Nem sempre a pergunta era só relativa à matéria – o que chegava a
deixar o professor sem resposta, já que este às vezes pouco sabia além daquela
matéria que lecionava, ou do assunto que expunha. Coincidência, ou não, foram
esses meus amigos que se tornaram grandes profissionais, pois em certo momento
o mundo exigiu menos disciplina e mais experimento. Ah, mas todos – sem exceção
– se deram bem na vida (mesmo sem saber ao certo o que é esse “bem”, repito o que os pais falam quando
se referem a nós).
Gosto também das exceções no
amor. Lembro bem de um exemplo que sempre me vem à mente quando falo disso. Lucila
sempre esperou de maneira submissa a chegada do seu grande amor e tinha a
convicção que ele chegaria de repente. Esse era o seu grande sonho: estar caminhando
na praça, junto à sua amiga, e ser surpreendida com um cortejo do seu amado,
que a colocaria em cima do seu cavalo e a levaria pra bem longe dali. Tomariam um
café, ele a falaria coisas bonitas e a deixaria em casa, incólume, com encontro
marcado para o outro dia e a promessa que seriam felizes para sempre. A mãe
dela pensava diferente: queria que se casasse com o Quinzinho, filho do Joaquim
da mercearia. Esse sim era um bom partido. Possuía estirpe, curso de
datilografia, estava prestes a terminar o curso de Licenciatura em Geografia e
era até, digamos, bonito (essa é a pior parte da descrição, com um teor extra
de piedade, pra não dizer também que o rapaz era só esforçado). Lucila nunca se
viu casada com ele, mas o tempo passava e nada do cavalo, da fuga, das
promessas. Já prestes a largar o sonho pela realidade por conta da comodidade
(como se fazem essas trocas por aí!), ela decidiu que não se curvaria ao sono
do destino que insistia em esconder o seu amado e esperaria o tempo que fosse. Para
ela, nada seria mais triste do que estar com o Quinzinho quando o grande amor
da sua vida aparecesse e não a pudesse levar consigo. “-Deixa de bobagem,
menina. Só você que não vê que a vida é aqui!” diziam alguns, em tom
desanimador. “- Case-se com ele, serão felizes, ele a ama tanto que fará você
sentir o mesmo por ele, questão de tempo...” reforçavam outros ainda mais
conformados com a dinâmica da vida. Lucila bateu o pé. Como uma exceção (e eu
gosto das exceções, repito), insistiu e viu o Quinzinho se formar, arranjar um
emprego, se casar com uma amiga de infância e ter com ela três filhos em quatro
anos. Dizem até que a garota casou grávida, de tanto que queria se casar com
aquele partido. Lucila preferiu ficar só, a expectativa daquele amor distante e
difícil era melhor do que a realidade morna que perdera. O tempo passou e a
última notícia que tive foi que ela anda apaixonada. Reencontrou na última
viagem de férias um amigo de uma prima que conhecera na adolescência e só fala no
rapaz, desde então. Também não me pergunte se ele veio a cavalo ao encontro
dela, mas acho que, se não, ela desistiu de parte de sonho. Não dá pra se
querer tudo, também. Né?!
Sempre com textos lindos! Beijo, continue!
ResponderExcluirÉ... Ás vezes a gente acaba desistindo de parte do sonho mesmo... E cria outros sonhos, e outros planos. E vai seguindo...!
ResponderExcluir=)
Sempre se desiste de (uma parte de) um sonho para se criar outros novos.
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