segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Pai e filho

Começou com 5 visitas diárias, acho que dos amigos que estavam na mesa quando eu falei despretensiosamente. Depois 15, 50, 150. Chegou um dia que o servidor acusou mais de 2.000, do mundo quase todo. Não imagino um chinês lendo essas palavras! Caramba! Mas ele há de entender, como diz o Arthur da Távola, "quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem para buscar sintomas com pessoas distantes, com amigos a quem não vemos, com amores latentes?". É, poesia é um dialeto, de uma comunidade de loucos. Os poetas são todos loucos. Poesia é uma forma de loucura. Veja só: o Fernando Pessoa diz "-Tudo, menos ter razão". Se ele fosse normal diria o contrário, "Tudo, menos não ter razão!". Li isso no Rubem Alves. Isso que normalmente damos o nome de razão são máscaras, mentiras, equívocos, farsas. A nossa verdade anda sempre enterrada. E é.

Nesse espaço, que é a janela lateral do meu quarto de dormir, de onde vejo o mundo lá fora e tento traduzir em palavras, eu me mostro por completo. Lendo isso aqui dá pra conhecer, talvez, quem eu sou. Ou, ao menos, quem eu queria ser! O rafadesapatonovo tem esse nome não por acaso, de sapato novo porque assim passei a caminhar de uns tempos pra sempre. Já até escrevi explicando esse tema.

Hoje recebi a ligação da Editora, avisando que a burocracia do meu livro estava resolvida. Pronto, nasci como escritor. Foi como receber a notícia da minha mulher (que nem tenho ainda!), de que estava grávida do meu primeiro filho (que tanto quero ter!). Livros são filhos que educamos antes de nascer. Ensinamos o que queríamos que as coisas fossem. Como eu queria que o mundo fosse mais compassivo, com menos valores materiais, mais humano. Em tempo: somos seres humanos e quase nunca humanos! Ainda há tanta gente na rua, tanta fome, tanta dor, ódio, solidão, mentira, ambição. Não existe mais contemplação, o sol vem e se põe e poucos o veem. Não existe mais afeto, palavras doces, elogios. Ligações pra dizer nada. Sinceridade e honestidade pra dizer tudo. Respeito no começo, e no meio, e no fim. Não existe.

Quero um filho assim, humano, mesmo sem ser humano. Que respeite as filhas dos outros, a família dos outros. Que adentre as casas pela porta da frente, que reconheça a história das pessoas, com seus medos, sentimentos, e respeite os sonhos delas. Nunca escreverei pra dizer que algo não vale a pena. Tem coisa mais deselegante que um filho desbocado e mal educado em um jantar de família?! Depois de crescido dificilmente se educa alguém e, nesse sentido, os livros já nascem grandes.

De gestos pequenos é feita a vida. Um abraço forte, uma lembrança boa, um sorriso à toa. Tenho tudo isso registrado em lugar especial, que se tornará papel, útil para eterniza-lo, em breve. Muito em breve.

Um comentário:

  1. "Foi como receber a notícia da minha mulher (que nem tenho ainda!), de que estava grávida do meu primeiro filho (que tanto quero ter!). Livros são filhos que educamos antes de nascer. Ensinamos o que queríamos que as coisas fossem." Lindo demais! Vontade de começar o meu com coisas que já tenho escritas por aí... Parabéns pelos textos todos!

    ResponderExcluir