terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sem graça

Futebol tá sem graça. Explico: mesmo com a última e decisiva rodada do Brasileiro pegando fogo por aqui, o futebol tem andado sem graça. O mercantilismo inflacionou salários desde o Palmeiras da Parmalat, tomou conta de cotas de televisão desiguais, desvirtua a paixão honesta e tirou um pouco (um pouco) da magia do esporte bretão.

Entendam.
O Sport, se for rebaixado, não foi pelo último jogo, mas pelas 16 derrotas e 55 gols sofridos desde maio. Isso sem falar nos 3 treinadores, no saldo negativo de -16 gols e nas 33 contratações (dentre elas Lenon, Magno Alves e Silézio. Isso mesmo, Silézio).
O Náutico, se for à Sulamericana, não foi pelo último jogo, mas pelas 13 vitórias e 43 gols feitos em 37 jogos. Registre-se também o aproveitamento de 72,2% dos pontos como mandante e o bom critério nas contratações de jogadores como Martinez, Rhayner e Alemão, por exemplo.

Mas eu tava falando da graça, ou da sem graça. Sinto falta da boa polêmica, saudável, divertida. Antigamente se sabia perder. E perdia-se com classe, indo ao churrasco na casa do adversário da noite anterior, sorrindo, como devia ser. Dá saudade das frases de Dadá Maravilha, das fantasias do Renato Gaúcho, das máscaras do Paulo Nunes, das declarações do Romário, dos dribles e dancinhas do Edmundo, dos gols fantasmas do Túlio. Guardadas as proporções, até das profecias do Carlinhos Bala eu sinto falta. Sou de um tempo em que futebol era arte, e arte em todos os sentidos. Da plasticidade do drible às apostas que se convertiam em cestas básicas.

Hoje o que se vê é tudo, menos arte. Uma declaração feita através de uma rede social se torna uma coisa enorme, maior que uma convocação pra Seleção Brasileira! Vejam, Douglas Santos foi convocado (pela 3ª vez!) e isso fica diminuto nos meios de comunicação diante de 140 caracteres ingênuos. Sim, ingênuos. Não há menosprezo em ser chamado de 'coisa', ou de 'barbie', ou do que quer que seja. No Brasil, é mais grave ser chamado dessas coisas do que de corrupto. Será que é mais interessante polemizar sobre isso ou apontar os (i)responsáveis por essa campanha? Repito, se o Sport cair, a culpa não será do Náutico (não obstante jogar a última pá de terra).

Sou sócio, vou a campo, compro camisa, viajo pra ver o meu time, sou um apaixonado meio bobo. Mas que aos poucos o futebol vai perdendo a (pouca) graça que ainda tem, isso vai.